trecho do meu conto A ELIPSE
CAPÍTULO QUATRO: QUANDO EU ESCUTO
Fascinado. No primeiro dia de observação fiquei fascinado. Fiquei Elis Regina cantando. Eu não queria destruir nenhum ser humano, nem queria o poder que o conhecimento da essência humana nos dá. Quando me fascinei, eu desejava conhecimento. Eu estava curioso. O mundo passou a ter uma certa relevância pra mim. O que eu assistia pela tevê, vendo as pessoas na tevê… as pessoas estavam dentro da tevê… mas elas estavam nas ruas. Rua? O que é uma rua? A rua é o palco. O que existe fora de minha sala? Fora de mim? Porque dentro, não sei. Estou vendo um ser humano de verdade. E vários! E sorriem. E gritam. E brigam. E choram. E é só. Porque não conheço mais do que isso: chorar, sorrir, brigar e gritar.
“Ele olha pelo buraco e observa as pessoas. No início ele ria, ria, até escorregava. Ele contraía os músculos do rosto, formava um bico com os lábios, olhava com estranhamento, mas depois, depois ele aprendeu o primitivismo do sorriso. Descontraiu. Ele cobria a boca com a mão, envergonhado por suas risadas. Tímido, com a descoberta de que também podia ter curiosidade. Aprendeu a primeira lição. A curiosidade é o combustível. E ele era uma reserva petrolífera inexplorada”
E eu ainda sinto que alguém me observa. (…)
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