teve copa (escrito no dia 12 de junho de 2014)
(Se essa história tiver alguma semelhança com a vida real terá sido mera coincidência)
O bléqui bobão acordou confiante. Pensou: hoje vou mudar o Brasil. Ele se levantou e partiu com outros bléquis para o metrô, que estava funcionando porque o governador (que só mostra ser machão contra grevistas) ameaçou os metroviários. Enquanto isso, a polícia, que não é educada, mas também não é boba, já havia fechado vias e cercado entradas de estações de metrô e trem. Quando o bléqui bobão chegou ao seu destino ele achou que seu trabalho de indignar-se diante das câmeras seria fácil.
Ele bloquearia ruas, atrapalharia o trânsito e contribuiria para que o primeiro dia de Copa do Mundo no Brasil fosse um caos. Ele sabia que a polícia, sempre tão gentil, o trataria com carinho, para que depois isso fosse mostrado pelos portais habituais da mídia, com as manchetes terroristas de sempre. Mas, primeiro: os coxinhas que sempre aparecem nas manifestações, não estavam lá em número suficiente para fazer volume. E os manifestantes de verdade, aqueles que realmente sabem do que estão falando?
Poucos apareceram.
Além disso, o que o bléqui bobão não sabia é que a polícia, escolada com tantas manifestações, – pacíficas ou não – não iria deixar que algo desse errado neste dia 12 de junho de 2014. Nada. Por isso a polícia-carinhosa de São Paulo do governador-machão atacou antes de ouvir o primeiro “não vai ter copa”. Mal o bléqui bobão foi visto, já levou gás lacrimogêneo, foi seguro, pressionado. E quando estava dominado por vários agentes, e quando ele estava de olhos fechados, um policial-carinhoso de São Paulo, do governador-machão, ainda atirou spray no rosto do bléqui bobão. As câmeras registraram isso.
Aí, o bléqui bobão e seus 300 companheiros conseguiram aparecer nas manchetes daquele portal-apocalíptico de sempre, com destaque. As imagens do bléqui bobão levando spray na cara indignaram a todos os que viram, inclusive este que narra essa fantástica história. Mas alguém está surpreso? Alguém achava que a polícia-carinhosa de São Paulo agiria diferente? O bléqui bobão sabia disso e até esperava por isso.
Só não esperava que a polícia sequer deixasse que ele e seus amigos fechassem alguma rua. Não fecharam. Quem quis circular pela cidade circulou. Quem quis ir para o estádio em Itaquera, foi. Onde estavam os outros milhares de bléquis e coxinhas? Vendo o jogo do Brasil em algum bar e protestando com uma cerveja na mão?
Feriado… o que eu vi foi muita gente se preparando para ver o jogo. Durante a partida, o que vi foram as habituais vaias e xingamentos para a presidenta. Porque o paulista é assim. Vaia qualquer um, seja ruim ou seja bom. Porque nada é bom o bastante para o paulista. Somente o governador-machão é bom, porque embora ele seja culpado pela falta de água (um problema que não foi resolvido), por não ter se antecipado ao problema (afinal, eles são mestres em “choque de gestão”), embora ele seja responsável pelo comportamento da sua polícia militar, ele quase nunca é alvo de nada. Nem da imprensa, nem dos coxinhas e bléquis bobões.
Nem do público que estava no estádio e que xingou a presidenta. Se ela merece ser xingada por algo que tenha feito ou deixado de fazer, ok, mas então o que merece um governador que deixou uma população de milhões e milhões à beira de ficar sem água? Que permitiu – conscientemente ou não – que milhões e milhões de reais tivessem sido desviados em obras passadas do metrô (e depois alega que não tem dinheiro para dar o aumento que os metroviários merecem)? Depois dessas reflexões feitas por este narrador, voltemos a história do nosso bléqui bobão. Quando passou um período na cadeia, ele voltou para casa, odiando ainda mais a polícia, a fifa, a copa, a presidenta e seu partido.
Ao deitar para dormir, ele conclui: É, mudei o Brasil.
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