sempre
enquanto a sombra navega livre pelas minhas veias
ou quando o calor dilata o desespero e a intolerância
o nosso maior dom é nosso maior dilema: somos comunicação
precisamos falar mas não sabemos ouvir
gostamos de ouvir e não temos coragem de falar
falamos e ouvimos e somos arrogantes, incompreendidos
não falamos nem ouvimos: nunca existimos
mas estamos sempre por perto de quem acha que existe
existir para quê? para abrir e fechar os olhos, lentamente
e nos milésimos de segundo entre uma coisa e outra
contemplar a vida
mas se não posso ver, posso tocar
usar os outros sentidos
e sentir
…suavemente saber-me na sua pele,
mordendo-a sutilmente, cravando cada dente num poro seu,
tremendo – a sua pele – com meu hálito rouco e quente.
entreter-me em ter-te aqui pousada em acidente.
reter sua saliva aguda
e aguçá-la com a respiração doce e amargurada de minha solidão fremente.
atirar-me, tresloucado, insensato, aos olhos seus.
ou cheirar cada pronome possessivo,
cobertor dessa pele orgulhosa, pólen para minha boca seca…
Deixe um comentário