querências

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ela abre os olhos e repete seu mantra:

“pelo dia
a noite fria

pelo menos
a gente soma

pêlos curtos no meu rosto 
pêlos mais grossos nas minhas pernas

mãos dementes
roçando cabelos urgentes

entre apelos 
há pêlos na cama 
de quem perdeu o sol da manhã

ah… deuses bebem o meu café da manhã

pelos olhos teus prevejo meus ‘adeuses’
escorridos e vaporizados
nas gotas do suor teu

meu corpo treme
vê-lo indo cada dia um pedaço

sinto em cada maço jogado ao lixo
que um episódio de nós se misturou a nicotina
e o que era bom ficou na mesa
ao lado do último gole de amor caramelado

escapou de mim
o Vermelho do medo e o Negro do desejo
a lembrança de quantas vezes subimos
o Morro dos Ventos Uivantes 
e sussurramos o grito mudo
de quem não quer dizer

e eu não quero dizer
atropelo o que sinto

a imagem que você me deixa
é a da toalha grande com teu cheiro forte
o pão comido pela metade
largado num prato esquecido na pia

imagem tão doméstica de mim
é o que resta pra lembrar
e esquecer e esperar o que virá para amanhã

pelo dia
a noite fria
o teu rosto quase-barba arranha o meu
e todo o sangue inflama deste corpo que é meu e teu”

amem

****é amem mesmo, sem acento, o verbo amar

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