Mulher e negra: Tereza de Benguela
Quem foi Tereza de Benguela? E por que um dia da mulher negra? Porque um dia serve para homenagear quem costuma passar incólume na sociedade. Aquela pessoa que é invisível para os outros, por força do preconceito e da discriminação de múltiplos braços e daqueles de pouco cérebro. A mulher negra está em dois grupos que sofrem tudo isso (sofre preconceito por ser mulher e por ser negra). Por isso, um dia comemorativo apenas para elas é algo que faz todo sentido. É para que tenham uma data em que possam debater seus problemas, organizar eventos que mostrem sua luta (porque há uma luta, sim!).
E datas assim servem para que os “cegos” sociais possam vê-las (e se incomodar também). A liberdade é mais do que uma carta de alforria. E ela nunca, infelizmente, existiu em sua plenitude, mesmo após a abolição. Então, o dia 25 de julho é o dia da Mulher Negra: é disso que trata o post “Mulher e negra: Tereza de Benguela”. Mas não só. Veja aí.
(minhas páginas, pessoais ou de cursos: instagram, ugrowth e linkedIn)
(texto atualizado em 23 de maio de 2020, 10h34)
Daqui a pouco falo mais de Mulher e negra: Tereza de Benguela. Antes, uma introdução ao tema. Vou falar dessa crônica – 19 de maio de 1888 – machadiana logo abaixo. Tem tudo a ver com o principal do meu post.
Uma crônica de Machado de Assis: reflexões sobre o discurso escravocrata
Machado fez um personagem chamado Pancrácio que é emblemático para uma reflexão sobre o poder duradouro da colonização. E, como explica Cilene Alves Cunha, na revista de Literatura Brasileira:
A crônica de 19 de maio de 1888 faz parte da série “Bons Dias”, divulgada na Gazeta de Notícias entre abril desse ano até agosto de 1889. (…) O texto envolve o eventocom uma leitura sobre o tempo imediato da Abolição, entrelaçando as fronteiras da crônica do cotidiano com ficção e reflexão, fundindo, como diz o autor, o sério e o frívolo.
Machado de Assis: Pancrácios do Brasil e o discurso colonialista
Efeito pancrácio
(texto publicado originalmente em 24 de julho de 2014 para o site da câmara dos vereadores de são paulo)
Isso posto, agora, sim. Vamos ao tema principal do post, que é Mulher e negra: Tereza de Benguela. Bom, todas as formas de violência que as mulheres negras sofrem foram o assunto principal do “Negras em Movimento” – Ato/Debate em homenagem a todas as “Cláudias da Diáspora Africana”. A cerimônia abriu a Virada Cultural de Inverno da Mulher Negra & Cia. Os relatos foram muitos: preconceito, violência doméstica, ou a falta de oportunidades para quem vive na parte de baixo da pirâmide social.
Mulher e negra: Tereza de Benguela e as Cláudias brasileiras.
A “Cláudia” que está no subtítulo do Ato se refere a Cláudia Ferreira da Silva, 38, negra, morta a tiros e arrastada por PMs na zona norte do Rio de Janeiro, em 16 de março de 2014. Imediatamente, sua morte provocou uma onda de manifestações populares nas ruas e nas redes sociais, assim como a morte do garoto João Pedro, no dia 18 de maio de 2020.
“A Cláudia foi vítima de uma violência institucional”, disse Ana Macedo, professora universitária, assistente social e uma das palestrantes (João Pedro também foi vítima de violência institucional, acrescento eu). Ainda de acordo com Ana, “a mulher negra deve fugir desse destino traçado, ela precisa servir de exemplo para as gerações”. Ana Macedo fez uma leitura do texto “A mulher Negra Guerreira está morta”, sobre o destino das mulheres negras. “O texto provoca. Pede que elas façam uma reflexão sobre quem são e o que querem”.
Veja mais: a história do grupo Palmares na dissertação de Deivison M. C. de Campos.
Além disso, o dia 25 de julho é o dia Nacional de Tereza de Benguela (veja texto sobre ela no fim da matéria) e da Mulher Negra, graças à Lei 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. Também é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Outra palestrante, Ivete Souza, é ativista do Círculo Palmarino. Ela falou sobre o que chamou de “genocídio da juventude negra” (vamos lembrar de João Pedro novamente). Segundo Ivete, o “genocídio é tanto direto, da polícia que mata só porque é negro, quanto do Estado, que não dá oportunidades aos negros”.
Veja mais: Mailde Trípoli analisa o negro na obra de Machado de Assis.
Mulher e negra: Tereza de Benguela e os movimentos de resistência
A coordenadora da cerimônia, Sandrah Sagrado, falou que “o Negras em Movimento serve para fortalecer a luta das mulheres negras e reconhecer que essa luta existe”. Para a palestrante Tatiana Oliveira, jornalista e ativista do Quilombação:
“A mulher negra é invisível na sociedade. Por isso, este evento é importante. As mulheres negras têm os piores índices de escolaridade, são as mulheres que mais sofrem violência, e são as que sofrem, por exemplo, mais discriminação no setor da saúde”, apontou Tatiana.
Já Ana Macedo lembra que “as mulheres negras devem olhar para si mesmas e sair do marasmo”. É isso. sair do marasmo, mudar o sentimento de pancrácio que há em cada uma. Mas não foi só isso que rolou no evento do dia.
O “Negras em Movimento” também marcou a apresentação do Hino à Negritude na Câmara (clique aqui e ouça a música), pela primeira vez. Ou seja, é a canção oficial das cerimônias da comunidade negra, de acordo com a Lei 12.981/2014, também sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. O hino é de autoria do professor Eduardo Oliveira, líder do movimento negro no Brasil e um dos principais articuladores do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB). O ato teve de tudo: samba de roda, rap e outras apresentações culturais.
Leia artigo sobre o movimento de mulheres negras.
Conheça Lélia Gonzalez: a mulher que revolucionou o movimento negro.
Mulher e negra: Tereza de Benguela. Quem foi a Rainha Tereza?
Tereza de Benguela, ou Rainha Tereza, foi líder do quilombo de Quariterê, que ficava no Vale do Guaporé, na região da Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital do Mato Grosso. A comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por décadas graças ao seu comando. Mais ou menos em 1770 o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho. A população de 79 negros e 30 índios foi morta ou encarcerada. Tereza foi presa. Ela se recusou a ser escrava novamente. Por isso, cometeu suicídio.
(minhas páginas, pessoais ou de cursos: instagram, ugrowth e linkedIn)
Deixe um comentário