lagos e narciso
como se um pedaço da minha vida fosse embora. como se minha pele descarnasse toda e eu ficasse em carne viva, na chuva, no frio.
ou no sol, no céu azul. a despedida foi pra mim um grito rouco pra ninguém ouvir… de que serve um grito se ninguém ouve?
não estou acostumado a abraços, a convencionalismos sociais de tratamento.
talvez por isso mesmo eu tenha me despedido de um modo tão sem graça,
sem afeto explícito.
mas o desejo de envolver você nos meus braços, de te erguer e rodar e parar e te olhar nos olhos. olhar assim, sem medos, sem vergonhas, sem constrangimentos, olhar e
… te beijar.
eu via nos lagos, em cada lago, um pedaço de mim que nunca me pertenceu.
eu via na lua cheia a plenitude do instinto humano de querer
em cada lago a lua completa recitava seus versos
como se um poeta lutasse pelo mais belo poema
onde os lagos brilham teu sorriso, e o dilema é escolher a lagoa nua,
ou a desnuda pela branca lua e muda
é tudo o que narciso quer:
uma verdade crua e mergulhar
ver a si próprio no fundo
o amor seria isso? afogar-se em si, ou mergulhar em si?
os lagos juram amores… e eu me recuso a pular
quero a lua.
e o meio mais próximo de chegar a ela é mergulhar em seu reflexo
meu corpo não sabe nem boiar
então fiquei olhando as luas dos lagos
sem saber se valeria a pena morrer afogado por um momento, um contato mínimo, virtual.
talvez seja tempo de aprender a nadar…
(não sou dono do relógio nem tenho salva-vidas)
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