corações sem lar
um dos maiores campos de refugiados do mundo, em kakuma, no quênia, é tão grande que poderia ser uma cidade. milhares de pessoas, da guerra entre sudão e sudão do sul, sobrevivem lá, sempre à espera de um futuro, cada vez mais difícil de chegar.
um refugiado tem um lar, mas não pode viver nele. foi expulso, perdeu suas terras, sua casa. sobreviver se torna prioridade. o futuro é ter o que comer. e cada dia é uma vitória.
quando o campo de kakuma, no quênia, foi estabelecido em 92, ele abrigava milhares de refugiados da guerra civil no sudão, outros tantos da somália. vinte anos depois, o campo que fica no noroeste do quênia, está cheio novamente, com um novo fluxo de pessoas fugindo dos conflitos em partes do sudão do sul e sudão.
nyibol maria é uma refugiada. ela conta que só decidiu vir para kakuma porque sua aldeia foi invadida e seu marido e filhos de vizinhos foram mortos na sua frente. ela diz que se escondeu e fugiu à noite.
levou três semanas para chegar ao acampamento.
as histórias se repetem. maimouna, outra refugiada sudanesa, não sabe onde está o marido. ela conta que as pernas do seu irmão foram cortadas depois de um bombardeio em sua aldeia. “eu fugi, e agora não tenho nada”.
mais de 4.500 pessoas chegaram ao campo de kakuma em 2012. e mais de 70% sudaneses e sul-sudaneses. suas tragédias são parecidas. fogem da violência, de assassinatos indiscriminados, roubo de gado e casas incendiadas. famílias foram separadas em meio ao caos das disputas de território. principalmente em jonglei, no sudão do sul, o medo se espalhou. virou uma região sem lei. os alvos de ataques são, principalmente, as crianças e as mulheres. é praticamente um lado tentando exterminar o outro.
desde que o sudão do sul se tornou independente do sudão em julho de 2011 imaginou-se que o conflito teria fim. mas a indefinição sobre as fronteiras, que lado é meu, que lado é seu, fez com que as tensões voltassem. principalmente porque na região fronteiriça há muito petróleo em disputa. se houvesse só lama para chafurdar, só os porcos iriam querer.
a capacidade máxima de kakuma é de 100 mil pessoas. se o fluxo de chegada continuar no ritmo atual, a perspectiva é de que seu limite seja alcançado em junho. há mais de 91 mil refugiados lá. os somalis ocupam metade do acampamento. um terço é de sudaneses e sul-sudaneses. o restante vem de dez outros países africanos.
são os corações sem lar.
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