carta de demissão
triste
a tristeza mais sutil e mais profunda
como o assobio refinado de uma gaita de blues
abatido
o rosto pesado
e a pele ao redor dos olhos me deixando mais velho
o otimismo tirou férias
a paciência está de folga
e a confiança deu lugar ao desânimo
fechei pra balanço
(vou balançar meu espírito)
estou em concordata
(o tempo é curto – embora seja sempre o mesmo, afinal o tempo é dono de si, o tempo nunca é nada, apenas nos parece ser, enfim, o tempo me parece curto)
fali naquilo que há de pior para se falir :
minhas dívidas são comigo
o papel-moeda corrente é a insatisfação
minha falência é o descrédito
se perguntarem por mim diga que só vou voltar quando eu me perder
acabou
o jeito é renascer
e cometer outros erros
porque os erros atuais já deram pano pra manga
…e a roupa ficou larga
Fabio, acho que você captou a aura de insatisfação de tanta gente, afundada nesse estilo de vida que há quem chame de moderno, mas é ultrapassado, uma forma vencida de pensar o sentido das vidas, atoladas em ofertas do desnecessário, como Drummond já apontava em A Rosa do Povo. Além de tudo, gostei demais da forma, do ritmo, das imagens. Ao livro, companheiro!