Política e marketing do medo nas eleições: consequências
A política e marketing do medo nas eleições sempre andaram juntas. Mas agora, pós-era digital, desenvolveram suas técnicas e ampliaram a capacidade de produzir medo, especialmente nestas eleições. Há cinco anos eu escuto economistas dizendo que a economia do Brasil vai afundar, que a inflação vai explodir e que finalmente o Brasil vai entrar naquela crise econômica que o mundo entrou, menos o Brasil.
Mas os economistas não têm acertado previsão alguma. Se agarram a qualquer índice negativo, zero-qualquer-coisa-inferior-ao-trimestre-do-ano-tal, ou o ritmo do comércio caiu porque a renda caiu então as pessoas compram menos supérfluos (ora, não eram os antigoverno que reclamavam do pobre gastar tanto, viajar tanto? e agora que se retraiu um pouco isso é ruim?). Uma economia sempre terá altos e baixos, menos dinheiro, mais dinheiro (o que não pode ter é menos água para abastecimento). A palavra crise está mal usada. Mesmo assim, os paulistas acreditaram nos apocalípticos e por isso fizeram as escolhas que fizeram.
Política e marketing do medo invade redes sociais
Os mineiros, que estão em reduto do Aécio, escolheram a Dilma. Eles próprios não acreditaram no Aécio, mas os paulistas, que nem conhecem direito o peessedebista, preferiram a ele. Dos mais de 34 milhões de votos do Aécio, pouco mais de 10 milhões vieram de São Paulo. Está claro que o voto não é para o candidato mineiro, mas é contra o governo federal. São Paulo é o estado que mais reage contra Dilma. É o mais indignado. Em redes sociais chega a soar quase como ódio.
A política e o marketing do medo nas eleições estão trabalhando nas redes sociais para produzir ódio, ou indignação, com informações verdadeiras, mas desprovidas de interpretação contextualizada, ou de informações falsas ou ainda de meias-verdades. E a política se aproveita disso. O medo é o sentimento a ser vendido por esse marketing.
Enquanto isso, a imprensa…
…por exemplo, só fala da Petrobrás, ela se esquece da Sabesp em São Paulo, se esquece do escândalo do Metrô. Os escândalos têm sido seletivos. E isso tem feito a diferença com o passar do tempo.
É que se criou a imagem perfeita de corrupção a um partido inteiro, e a imagem de que a presidenta vai quebrar o Brasil. Ou de que tudo está errado. E quase 16 milhões (os que votaram em Aécio e Marina, somados) de paulistas acreditaram e responderam nas urnas. O restante do país continua achando que esse modelo de governo está correto, que as coisas melhoraram, e que há coisas que precisam mudar, sim. Mas que quem deve conduzir essas mudanças são as mesmas pessoas que estão conduzindo o Brasil há 12 anos (os estados que sempre foram conservadores, ou que sempre foram contra o PT, são coerentes com o que sempre foram e não falo deles). É assim que se está fazendo política e marketing (do medo) nas eleições. E funciona.
Como descolar de um apelido maldoso e fazer com que as pessoas aprendam a discutir sem ódio, que respeitem as diferenças? Como convencer as pessoas de que o debate sadio implica em argumentar com informações verdadeiras, que foram checadas? É por isso que há uma grande parcela da população que nem quer saber de política, que nem acredita nisso. Porque “é tanta sujeira”, que nem vale a pena votar. Muitos são jovens, são apartidários e estão indignados. Mesmo sem ter clareza do motivo. E outros são pagos para agitar nas ruas e nas redes sociais.
Política e marketing do medo convence gente inteligente
Gente inteligente, que reconhece o serviço de desinformação aplicado pela mídia, também está insatisfeita com o governo. Por isso a terceira via era importante. Mas a Marina mostrou porque Lula preferiu a Dilma e não ela. Porque ela não tem nada de novo. E é por isso que ela perdeu votos, não porque foi atacada pelo PT. Os “ataques” colaram nela porque, em parte, eram verdade. E em parte porque ela não tem carisma e força suficientes para revidar. Não tem moral para isso.
Quem troca de partido tantas vezes em nome de seus “princípios” mostra que não sabe defender seus princípios num ambiente de diferenças democráticas. Por que não defendeu seus princípios dentro do partido? Porque ela precisa de um partido só dela, de um ambiente em que somente o pensamento dela predomine. E os eleitores sentiram isso. A imagem de quem muda de opinião toda hora também pegou. Culpa da própria Marina. Não foi o PT quem fez ela mudar de opinião, não foi a imprensa quem mentiu sobre isso. Ela mesma entrou em contradição sobre alguns temas.
Marina, em essência, é o voto do protesto. Que é um voto volátil. É uma pluma. Voa de acordo com o vento. Não é um voto consistente. Dilma sempre girou em torno de 35% a 40%. Seu público sempre foi esse e ela nunca saiu disso. Por isso teve 41,59% no primeiro turno. Isso é consistência.
Voto alternativo
Já a Marina teve seus 22 milhões de votos, que são, na maioria, de gente que quer algo diferente. As pessoas não sabem, realmente o que a Marina quer, o que pensa, porque quando ela diz algo, você não tem certeza se ela vai mudar de opinião depois. Você sabe o que esperar da Dilma, até do Aécio, mas não sabe que caminho a Marina vai tomar. Mesmo assim, seus 22 milhões estão dizendo: “sabemos disso, mas acreditamos em sua origem humilde e não gostamos dos outros dois”.
Pois bem, agora, esses 22 milhões tiveram de escolher não votar, votar nulo, ou eleger um dos dois que do segundo turno. Marina teve 5,76 milhões de votos no estado de São Paulo. Quase o mesmo que a Dilma. O novo marketing político está na rede. É mais demorado, mas os resultados aparecem. O segundo turno dura poucos dias. O que acontecer ainda será reflexo dessa guerra virtual travada nos últimos quatro anos. As conclusões são: pesquisas eleitorais não servem para nada. A internet ainda não teve todo seu potencial bem explorado pelo marketing político.
A grande mídia brasileira (paulista e carioca) precisa de uma grande mídia que lhe faça, democraticamente, jornalisticamente, oposição. Para o bem do país. E, finalmente: os paulistas precisam parar com a presunção de que o Brasil deve seguir cegamente o jeito de pensar de São Paulo.
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