nós (quando ainda era solteiro)

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eu não sei. sempre pensei que tudo fosse muito simples. que a complicação vinha de nós.
até o pronome “nós” significa entrelaçamento das extremidades de um fio que envolve algo, com a finalidade de manter esse algo firmemente envolvido, ou para unir dois objetos e mantê-los unidos. também quer dizer a articulação das falanges dos dedos. ou a parte mais dura da madeira. é isso. nós.
nós somos a parte mais dura da madeira, também somos uma articulação dos dedos. nós somos, principalmente, um entrelaçamento, que visa envolver algo, com a finalidade de manter esse algo seguro. para sempre. nós servimos para manter dois objetos unidos. são definições lindas. mas para haver o nós, é preciso haver dois. achar alguém que queira juntar-se a você, que definitivamente queira proteger algo, em comum acordo, com você: filhos? amor?
o que devemos, nós, envolver, proteger, unir e manter unido? eu sempre admirei a solidão. mas não posso ficar com ela porque a solidão não tem ponta. não é corda. não entrelaça, não envolve. não posso ter filhos com a solidão. se os tivesse, se chamariam: antissocial (com hífen ou sem?), introvertida e depressiva… 
a solidão, apenas, é muito dura. a parte mais dura – não da madeira mas – da vida. nós, esse duplo, essa dicotomia, essa dialética, esse di… nós, que prendem, só prendem, amarram, seguram, protegem, por vontade de quem é corda e por concordância de quem põem o dedo para que se faça o nó. no fim das contas pode ser que as coisas sejam mesmo muito simples. talvez eu tenha me contaminado com a mania dos outros de complicar tudo. e se for assim eu sou normal, não sou? sou comum. mas quando meu gato de estimação me olha nessas horas de confusão, me olha com aqueles olhinhos azuis de melancolia felina, languidez gótica, me olha querendo que eu entenda algo absurdamente simples, que não consigo ver, porque não tiro o maldito óculos… quando ele me olha assim… começo a duvidar das minhas dúvidas. acordo, e volto a viver meu sonho.

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