lia
faria em versos
seus medos e segredos
rimaria uma história
e retiraria do final toda agonia
as letras se comporiam em sonatas
em tercetos, em bravatas
em sustenidos ou sonetos
você entenderia que o temor de amar
é pura mania de evitar que a alegria
corra o risco de arriscar ser
deste teu olhar tão curioso
alguém recitaria os abraços que eu te daria
mas cauteloso
eu rimaria o teu nome
com tudo o que se amaria
de quem amasse de verdade
se pudesse amar muito mais do que podia
seríamos a tatuagem na areia
porque tudo em volta dessa praia que ardia
era chuva e lama:
além da ventania do teu olhar risonho
além do nada o horizonte bradava
a tempestade dos teus versos
feito gestos caricatos
aparatos da delicadeza
é a forma da natureza
que assim dissiparia o silêncio
de quem você um dia leria
enquanto a noite não vem
teus olhos eu lia
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